No vasto cenário agrícola brasileiro, duas abordagens destacam-se pela busca de práticas mais sustentáveis: a agroecologia e a agricultura orgânica. Apesar de muitas vezes confundidas, elas possuem objetivos distintos e enfrentam diferentes desafios.
Um exemplo claro dessa dualidade foi destacado em matéria do portal ‘O Joio e o Trigo‘. Em Sertãozinho, São Paulo, a monocultura de cana-de-açúcar se destaca. Já em Campo do Meio, Minas Gerais, uma antiga usina foi transformada por famílias em uma diversidade agroalimentar impressionante.
Enquanto a agricultura orgânica foca na eliminação de insumos químicos, a agroecologia busca uma revolução no sistema alimentar, promovendo justiça social e diversidade. Mas como essas práticas se manifestam na realidade brasileira?
Desafios e novidades sobre a agroecologia e agricultura orgânica no Brasil – Imagem: ORION PRODUCTION/Shutterstock
Monoculturas e diversificação
Sertãozinho: potência mundial do açúcar orgânico
A cidade de Sertãozinho abriga uma das maiores produções de açúcar orgânico do mundo, comandada pelo Grupo Balbo. Os 20 mil hectares destinados à cana produzem 100 mil toneladas de açúcar, com 70% destinados à exportação.
Apesar de sua escala e impacto ambiental positivo, essa monocultura levanta questões sobre seus impactos sociais e econômicos na região. A certificação orgânica é obtida, mas a transformação dos sistemas alimentares locais não é o foco.
Campo do Meio: um exemplo de agroecologia
No Acampamento Quilombo Grande, antigas terras de uma usina falida agora sustentam mais de 400 famílias em uma produção diversificada. Sem certificação, mas com práticas agroecológicas, a comunidade enfrenta desafios legais para garantir seu direito à terra.
Essa experiência demonstra como a agroecologia pode transformar áreas antes improdutivas e socialmente injustas em centros de riqueza comunitária e biodiversidade.
Certificação: barreira ou oportunidade?
A certificação orgânica no Brasil pode ser obtida por auditorias externas ou pelo Sistema Participativo de Garantia (SPG). Entretanto, o custo e a burocracia ainda são obstáculos para muitos pequenos produtores.
- 76% dos produtores orgânicos são familiares;
- 40% possuem menos de cinco hectares;
- Apenas 15% possuem mais de 50 hectares.
O SPG oferece uma alternativa mais acessível, promovendo trocas de conhecimento entre agricultores. No entanto, desafios persistem, especialmente para aqueles sem terra fixa ou recursos para arcar com custos indiretos.
Interface com o agronegócio
Empresas de grande porte também se aventuram no mercado de orgânicos, como a Unilever e a Nestlé. Contudo, práticas sociais e ambientais duvidosas em outras áreas de suas operações levantam questões sobre a genuinidade de seus compromissos com a sustentabilidade.
Essa dualidade destaca a diferença entre a certificação orgânica como estratégia de mercado e a agroecologia como movimento transformador.
Futuro da agroecologia no Brasil
A agroecologia busca a transformação integral dos sistemas alimentares, integrando justiça social, econômica e ambiental. Iniciativas governamentais como o PAA e o PNAE exemplificam esse enfoque, incentivando a produção local e diversificada.
Ainda que muitos desafios persistam, exemplos como Campo do Meio demonstram o potencial transformador da agroecologia. Com um enfoque no fortalecimento comunitário e na biodiversidade, essas práticas podem ser a chave para um futuro agrícola mais sustentável e justo no Brasil.
*Com informações do portal O Joio e o Trigo