O Brasil enfrenta uma das secas mais intensas de sua história, refletindo de maneira significativa no mercado da carne bovina. O preço do boi gordo registrou um aumento significativo, impulsionado por condições climáticas adversas e uma demanda crescente, tanto interna quanto externa.
Em setembro, o valor da arroba se elevou, revertendo as perdas observadas no primeiro semestre.
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Durante o primeiro semestre, o país vivenciou um abate recorde, 21% superior ao mesmo período do ano passado, resultando na queda do preço do boi para R$ 215 por arroba. Todavia, a ausência de chuvas e um aumento na demanda alteraram esse cenário.
Em setembro, a arroba subiu 14,4%, atingindo R$ 274,35. As praças pecuárias de Barretos e Araçatuba registraram valores médios de R$ 277, de acordo com dados da Scot Consultoria.
Segundo Fernando Iglesias, da Safras & Mercado, a seca afetou fortemente as pastagens, o que elevou os custos de produção. De acordo com a consultoria, a previsão é que a oferta de animais extensivos só se normalize em 2025.
Nesse ínterim, a produção deve se concentrar em sistemas de confinamento, mais onerosos que o tradicional sistema a pasto.
Impacto do confinamento e mudanças no ciclo pecuário
Os custos de confinamento no Sudeste subiram 6,94% em setembro, conforme o Índice de Custo Alimentar Ponta. A migração dos animais para o cocho e a demanda crescente por insumos contribuíram para essa elevação.
Em Mato Grosso, o principal estado produtor, o abate de machos terminados em confinamento liderou, totalizando 647,04 mil cabeças em setembro.
A participação das fêmeas no abate caiu para 37,22%, marcando o início da retenção por parte dos produtores. Essa tendência indica uma iminente virada no ciclo pecuário, com expectativa de valorização das categorias jovens de animais, conforme avalia Iglesias.
“Na virada deste ano, provavelmente vamos ver virada de ciclo porque o preço do bezerro já parou de cair e o próximo passo é uma alta mais contundente das categorias de animais mais jovens, que vai levar a uma maior retenção de fêmeas”, esplica o especialista
Reflexos nos preços ao consumidor e perspectivas de consumo
O aumento no preço do boi vivo também foi sentido no mercado atacadista paulista. A carcaça casada de vaca e novilha teve valorização de 15,2%, enquanto o boi casado subiu 12,2%. Segundo o IBGE, cortes bovinos como patinho e peito tiveram alta em setembro, mas a picanha registrou uma leve queda no preço.
Apesar do encarecimento, a expectativa para o consumo interno é positiva. A consultoria Athenagro projeta que, em 2024, o consumo per capita de carne bovina formal atingirá 34,6 quilos. A produção elevada, impulsionada pela demanda externa desde 2019, garante uma oferta robusta tanto para exportação quanto para o mercado interno.
De janeiro a setembro, as exportações brasileiras totalizaram 2,1 milhões de toneladas, um incremento de 28,3% em comparação ao ano anterior.
Segundo Maurício Nogueira, da Athenagro, a melhora do cenário macroeconômico no Brasil contribui para a manutenção do valor da carne ao consumidor, apesar de o ciclo pecuário sugerir aumentos futuros.